terça-feira, 18 de outubro de 2011

África Selvagem

Não é preciso um estudo in loco para concluir tamanho o impacto nas missões sociais e humanitárias é a visão generalizada do mundo em relação à África. Não um continente, mas um único país. "Pessoas" tribais vivendo no meio da mata junto à animais selvagens e sobrevivendo da caça (e do canibalismo, claro). Guerreando de maneira animalesca e selvagem. A fala é pouco desenvolvida e não há códigos, não se saber ler ou escrever. Diria eu, um quase homem das cavernas.
Se não, um país com pessoas esqueléticas morrendo de fome. O caos criminal toma conta uma vez que não há democracia ou instituições governamentais como no ocidente.
Ouço até hoje: Cuidado Bá. Aquele povo é violento! Ou coisas do tipo: Ai Bá! Tem certeza que quer ficar com aqueles pretinhos barrigudos? Ou ainda: Nossa! Lindo o que você está fazendo, mas não é pra mim. Eu gosto de civilização...
Não pense vocês que essa imagem da África é singular, fora do seu círculo social ou de brasileiro. Ela representa a grande maioria do mundo e dos países. Vejo isso bastante no muzungos que aqui encontro: Eles fazem assim... Eles tomam banho assim... Eles comem isso... Eles não aprendem isso... Eles trabalham diferente...Eles são preguiçosos...
É claro que as missões, os programas, os projetos sociais aqui representam essa visão e tratam as pessoas a quem irão ajudar como crianças, burros, com dificuldade pra aprender, não conhecem tecnologia, escrevem errado, não são civilizados...
Discutir política, cultura, sociologia ou qualquer outra ciência com um local??? Já vi bastante disso. Muzungo guardam suas palavras, pois os ugandeses não irão entender... Ouvir o que eles têm a dizer? Pra que? Vamos tomar uma cerveja juntos que é melhor. Você, ugandês, ainda acredita que o homem veio de Deus, não sabe sobre Marx e nunca ouviu falar sobre O capital.
"Temos que adaptar o discurso sobre HIV conforme à realidade", ou seja, fala que Deus vai te queimar no inferno se você fizer sexo antes do casamento, mas não fala sobre camisinha. "Less they know, better" (quanto menos eles sabem, melhor) - http://www.hrw.org/en/reports/2005/03/29/less-they-know-better.
Artigo do Human Rights Watch sobre os programas anti-HIV em Uganda, um dos países mais bem-sucedidos no combate ao vírus em toda a África.
Uma pena não poder dividir as propagandas do governo televisivas e mesmo em outdoors sobre HIV. Todas relacionadas à não trair a sua mulher e não fazer sexo antes do casamento.
Até quando os trataremos como estúpidos? Até quando não os escultaremos? Até quando aplicaremos os mesmos testes e programas nos africanos que são aplicados aos macacos de laboratório?
Enquanto não mudarmos nossos pensamentos iguais aos dos colonialistas, não podemos exigir a independência, democracia e liberdade dos países africanos.

2 comentários:

paula. disse...

"faça o que eu digo, não faça o que eu faço."

sibeli disse...

difícil isso pra quem já se habituou com tais paradgmas.....