Onde come um, comem sessenta!

Molecada construindo o que, um dia, será um galinheiro. Renda e comida a mais :)

Enquanto não tem galinheiro, eles ficam na casa mesmo.

Espaço pra missa e estudo.

Nossa Mamma

Um coração enorme em forma de mulher. A chance de sair do país, ir pras "europa", fazer a vida, criar os filhos em um "mundo sem problemas", não foi possível graças à responsabilidade que este coração, digo, mulher, tinha com seu país.
A sua casa de dois andares e 7 cômodos (não se iludam, não há qualquer infra-estrutura, leia-se: caindo aos pedaços) se transformou em um orfanato. A senhora é hoje a mãe de toda a vizinha e, claro, a minha também.
A casa abriga umas 20 crianças que não têm onde dormir, mosquiteiro, roupa ou se quer comida suficiente. Mas encontra lá uma família, muito amor, carinho, esperança, oportunidade, incentivo... Coisas que as ruas nunca foram capazes de oferecer. Além disso, Mamma cuida de outros 60 órfãos das redondezas e outras famílias que a respeitam e a tem como mãe.
Tira todos os custos dos próprios bolsos e paga suas escolas e até faculdades. Sabe exatamente o ano letivo de cada um e admira cegamente todos seus filhos. Chora e se emociona quando vê um deles dançando ou jogando futebol. Sempre que vou lá, apresenta um por um orgulhosamente e fala dos talentos de cada um.
Tive a oportunidade de acompanhá-la quando foi às ruas visitar crianças e acolher as que de lá gostariam de sair (muitos deles não aceitam sair das ruas por medo do que os aguarda, por medo de perderem suas liberdades e por trauma de quando tiveram que viver na casa de desconhecidos, após a morte ou abandono dos pais). Posso dizer que foi a coisa mais chocante que vi em minha vida. Não consegui enxergar a inocência típica da criança, o olhar tímido, esperançoso, mágico... Fiquei enjoada. Fiquei com nojo de mim, da minha vida, das pessoas...
Em meio àquelas crianças, uma delas, que não sabia sua idade mas devia ter lá seus 13 anos, tinha 90% do seu corpo queimado e estava bêbado. Ao perguntar o que havia ocorrido, contou que um cara lhe ofereceu Ugs100,00 (R$0,07) para que enfiasse os dedinhos na tomada.
Mamma me pediu que ajudasse a escolher 5 meninos, já que muitos deles queriam ir, mas não havia espaço na casa. Não consegui, não tinha esse direito de determinar quem receberia um prato de comida, um banho e, de quebra, um futuro e quem viveria pro resto da vida nas ruas, tomando banho nos esgotos, comendo a cada 3 dias, roubando, apanhando, bebendo...
Dá pra acreditar que esses meninos e meninas já viveram assim?

Tenho ajudado o orfanato desde que cheguei. Estou levando grupos de breakdance e o Rafa vai treina-los em futebol (estão eufóricos com a possibilidade de aprenderam a jogar como o Ronaldo... vão se decepcionar rs). Estou ensinando sobre HIV e criei um joguinho educativo sobre o tema, visto que a maioria são HIV positivos, pois perderam seus pais para a doença. Estamos lutando para achar organizações e instituições (governamentais ou não) para que médicos vão até o orfanato testá-los e oferecer os cuidados e tratamentos necessários. Também estamos lutando para que o governo apoie com comida, infra-estrutura e escola para as crianças.
Mas ontem, com a ajuda de cada um de vocês, pudemos fazer um pouco a mais pelas crianças, pois tudo que fizemos até agora não envolveu dinheiro pelo motivo simples: não temos!
Compramos roupas, sapatos (o único pedido da Mamma, pois ninguém tem sapatos), comida e brinquedos. Nem preciso falar o que animou mais as crianças, né?

Rafa professor. Corrigindo a lição de casa improvisada (já que não vão à escola). Rolou até marquinha de "Very good".

Genias!!!

Mãe, olha o presente que você me deu onde foi parar.

Já que não tem escola, a gente apela pros livros, certo?

Estou compartilhando isso, pois acredito que todos que ajudaram de alguma forma, façam parte disso. Não era a gente que estava lá, mas sim vocês. Estávamos representando todos vocês. Queria poder ter filmado cada gargalhada, cada choro, cada abraço, cada emoção, cada olhinho brilhando...

OBRIGADO pelo apoio!!!!!

Barbara e Rafael