domingo, 2 de outubro de 2011

Somos todos irmãos!

As pessoas querem ajudar mas têm vergonha, medo.... Medo de chegar perto demais. Vergonha de sentar ao lado de um morador de rua e conversar por dois minutos antes de dar um lanche.
Queremos ajudar mas não sabemos como! Não sabemos em que organização ou projeto podemos voluntariar, doar nosso trabalho físico e mental. Não sabemos à que organização ou projeto podemos doar dinheiro. Desconfiamos do destino desse dinheiro.
Esquecemos do dia-a-dia, da ajuda natural, da mão estendida involuntariamente... Essas pequenas ações, além de ajudarem que está precisando, gera uma cadeia de boas ações. Aquela pessoa a quem você estendeu a mão, terá, naquele dia, atitudes melhores, estenderá a mão a quem precisar....
Não entendo como não ajudamos naturalmente... Estamos falando de seres humanos, estamos falando de irmãos...
Não damos moedas no farol, pois não queremos incentivar esse tipo de prática, pois desestimula essa criança à procurar um emprego. Não damos uma moeda, mesmo que isso pudesse significar a unica refeição dele do dia. Jugamos ser um "bandidinho preguiçoso", quando se quer sabemos os motivos dessa criança ter que viver nas ruas e não ter tido as mesmas oportunidades que nós temos.
É claro, essa criança se tornará o "bandidinho preguiçoso". Eu me tornaria. Depois de ser ignorado pelo governo, pelas pessoas, de ter vidros fechados na sua cara, pessoa virando a cara e andando mais rápido pra não ter que encarar a criança suja mendigando, garçons te enxotando de restaurantes como se fossem cachorros para não "incomodar os clientes", você não se tornaria um "bandidinho preguiçoso" com raiva da sociedade?
Além disso, lutamos pela igualdade de direitos, igualdade financeira, igualdade de oportunidades... Mas esperamos isso de uma mudança social, uma mudança no governo, no sistema... Esquecemos que a luta tem que começar no nosso dia-a-dia, nas nossas ações corriqueiras... Vivemos nossa vida normal e assumimos essa causa, essa luta? Temos que começar a dividir nossa dinheiro, mesmo que esse seja pouco. Temos que começar a dividir nossas oportunidades, nossos direitos, mesmo que esses sejam pequenos.
Essa falácia chega a ser bizarra. Lutamos pela igualdade, mas não temos filhos, pois ainda não somos bem sucedidos o suficiente para lhes garantir uma escola particular de qualidade.
Te convido pra mudar seu dia-a-dia, para quebrarmos esse hiato social. Te convido à olhar as pessoas nas ruas com outros olhos e elas também te olharão com outros olhos.
Com essa campanha para mudarmos antes de tentar mudar os outros, o governo, o sistema, eu e o Rafa estamos com alguns pequenos projetos aqui em Uganda. Além de procurar se relacionar de igual pra igual dentro da nossa comunidade, com os moradores de rua, com as crianças do orfanato e etc., Estamos proporcionando alimentação, escola, material escolar, de acordo com o que podemos, mas tirando do nosso almoço no restaurante ou da nossa cervejinha no bar, para proporcionar um pedaço de pão para uma criança de rua.
Ontem, eu e o Rafa fizemos uma grande compra no supermercado e distribuímos entre as crianças e mães de rua. A distribuição foi à olho, mas não nos preocupamos muito com isso, pois todas as crianças, imediatamente, dividiram todos os alimentos. Ao fim, não sei exatamente o por que, mas uma das mães caiu no choro e, claro, seu pequeno bebê acompanhou a choradeira ao ver sua mãe, derramando lágrimas "sem motivo". Não sei por que ela chorava, mas não era de felicidade.
Semana passada, após uma menininha deixar uma carta embaixo da nossa porta, sem seus pais saberem, pedindo para que nós (anjos, como ela acreditou sermos) ajudasse ela e seu irmão à estudarem, pois foram expulsos do colégio após não pagarem a mensalidade por mais de um ano. Com a ajuda de vocês, já conseguimos esse dinheiro para os colarmos de volta na escola (cerca de R$300,00 por ano) e esperamos agora para comprar algumas roupas, material escolar e comida, já que elas passam fome, visto que o pai, desempregado, não consegue sustentar a madrasta e os quatro filhos. A mãe, abandonada pelo pai, como é comum em Uganda, voltou para a aldeia e luta pela própria sobrevivência.
A baixo tem fotos das crianças e a carta na íntegra. Iremos atualizar o destino dessa e de outras crianças com frequência para que todos saibam o bem que estão fazendo por aqui, do outro lado do oceano.
Minha conta do banco pra caso você queira ajudar:

Barbara Ribeiro de Freitas
Banco Bradesco
Agência: 0208-9
Conta: 0204373-4
CPF: 368607348-9


                                                              Mwesigwa Joackim, 12 anos.




                                                                           Pequena Kemigisha Zanerah, 13 anos.


Carta na íntegra(traduzida por mim):



Nossos queridos visitants,


Te saudamos em nome do nosso Senhor Jesus Cristo e te recebemos em Uganda. A primeira vez que nós te vimos, eu e meu irmão, pensamos que estávamos vendo anjos, mas isso não era correto.
Escrevi essa carta para te falar que nos chamamos Kemigisha Zanerah, uma menina, e Mwesigwa Joackim, um menino. Eu tenho treze anos e estou no primário sete e meu irmão tem doze anos e está no primário seis.Nós dois estamos na escola Bishop – Somos alunos de lá.
Em novembro eu, Zanerah, vou para os exames finais para deixar o primário que farão que eu vá para o Sênior 1.
Eu tenho família, meu pai se chama Mwesigwa Moses enquanto minha mãe se chama Liza  Rebecca e a minha madrasta é chamada de Natukunda Sylivia. Nossa tribo é a Banyankole e falamos Lunyankole e também sabemos até Luganda.
A gente tem dois meio-irmãos chamados de Jonathan e Joel. Jonathan tem um ano de idade enquanto Joel tem dois anos. A gente vive com nossa madrasta.
Na segunda-feira, 5 de setembro de 2011, seremos mandados pra fora da escola por causa das mensalidades. Eu sei que isso não interessa a vocês por que vocês não me conhecem. Eu estou pedindo à você que está lendo esta carta para ser o meu padrinho. Isto é por que meu pai não tem dinheiro pra pagar nossas mensalidades e nossa mãe não trabalha, ela vive na aldeia. Algumas vezes nós não comemos, ficamos com fome. Alguns podem dizer que estou mentindo, mas é verdade.
A escola está pedindo mensalidades que não podemos pagar. Para mim Kemigisha Zanerah eles estão pedindo cento e quarenta mil pelo último período e cento e quarenta mil para este terceiro período enquanto para o meu irmão Mwesigwa Joackim eles estão pedindo cento e quarenta mil pelo último período e cento e quarenta mil por este terceiro período o que dá um total de quinhentos e sessenta mil.
Eu rezo para que o Senhor, nosso Senhor Jesus Cristo nos ajude para que você aeite essa carta e tudo que eu escrevi.

Com o seu carinho,

Kemigisha Zanerah

Um comentário:

sibeli-mãezinha disse...

mil ao quadrado tdo que escreveu,,,,finalmente uma inspiração.Sei que é uma fonte de inspiração dolorosa...mas bé e te faz cda vez mai gentinha de Deus.....te amo