sexta-feira, 8 de abril de 2011

Uma metamorfose ambulante...

Uma pessoa firme, de fortes opiniões, segura de suas verdades e de sua personalidade é sempre admirada.
Por essa razão, sempre me senti fraca quando me deparava com meus constantes questionamentos sobre 'quem eu sou?'. Fraca por não ter uma opinião sobre determinado assunto polêmico e expressá-la de maneira segura em rodas de cervejas. Fraca quando via que havia uma barbara para cada pessoa. Fraquíssima quando via fotos antigas como a virgem do século e fotos atuais como a líder do movimento feminista abolicionista.
Mas depois de recentes experiências em Uganda, vi que essas 'barbaras' são, na verdade, uma só. Essa sou eu. E ser uma metamorfose ambulante, mudando cada vez mais rápido, cada vez mais profundamente, não é um defeito, mas, no meu caso, minha maior qualidade.
Ser 'ninguém' me faz ser 'todos'. Ser uma pessoa sem uma 'verdade' me faz ser ser uma pessoa de todas as 'verdades'.
Aceitar que, pra mim, não há certo ou errado, me fez ser razoável comigo mesma. Não há problema algum em dizer, agora, o oposto do que eu disse antes.
Passei a última semana no fim do mundo. Achava que tinha aterrissado nele no dia 18 de janeiro, quando tive que comer arroz e feijão em todas as refeições, tomar banho gelado de caneca, mirar o xixi em um buraco, viver cercada de lixo, fezes, animais... Mas não. O fim do mundo estava a umas seis horas de Kampala.
Mini (beeem mini) aldeias, no meio do mato, rodeadas de grandes babuinos e outros animais que fiquei grata de não ter encontrado. Casinhas de barro e teto de palha ao redor do rio. A aldeia sem luz, sem água e que cheirava a peixe podre. Sem escola, hospital ou qualquer instituição que sempre juguei vital para a minha existência.
E não é que em poucas horas o fim do mundo poderia facilmente ser o começo do meu mundo?
Em 5 dias, estava tão habituada que voltei para Kampala com a sensação de que estava indo para uma metrópole européia.
Tudo é um começo de mundo para uma pessoa sem 'verdades', sem 'aquela velha opinião formada sobre tudo'...
Aliás, um dia após o último post revoltado. Acusando deus das mazelas do mundo. Estava caminhando por uma aldeia em Jinja em busca do Rio Nilo quando fui auto-convidada à adentrar em uma pequena casinha onde acontecia um culto religioso.
Não sei ao certo qual religião era, mas não creio que isso importe. Todos cantavam sem nenhuma pausa. Crianças, idosos, jovens... Todos felizes em um sábado de manhã. Unidos em uma energia muito diferente e que inevitavelmente me atingiu. É lá que sentimos uma paz, uma esperança. Onde rimos sem saber o por que e onde sabemos que o mundo é lindo, as pessoas são boas. Onde sabemos que somos as pessoas mais felizes do mundo e gratos por sermos quem somos.




Talvez a melhor solução seja nos revoltarmos contra os reais responsáveis pelas nossas mazélas lutando pelos nossos direitos e nos darmos o sábado matinal de descanso (ou o domingo, se deus fizer tanta questão).
Mas isso é só mais um 'talvez'. Afinal, quem sabe qual será a próxima 'barbara' a postar por aqui, né?

Aquela pessoa fraca e que invejava as discussões de bares sobre como o anarquismo traria a paz mundial é, hoje, uma forte mulher moradora do mundo, fiel a todas as religiões, fruto do ventre de todas as mulheres e feliz. MUITO feliz.

Salve RAÚL.

6 comentários:

Teca disse...

as Bárbaras,seja lá quantas forem, estão cada dia mais incríveis!

Chico disse...

Querida Bárbara,
Aqui é a mãe do Chico.
Li boa parte de seu blog. Parabéns pela sua luta e suas escolhas.
Muita sorte! Um grande abraço, Bia

Unknown disse...

Prazer de ter conhecido, mesmo que um pouco, alguma dessas Bárbaras ai...
beijo grande.

Guilherme Cicerone disse...

Com todo o respeito, Bá, mas você é linda!

Mais um post que me faz ficar dentro do seu post!

Naná Pascher disse...

Bá, li esses dias essa frase e pensei mto em vc e nesse seu post. É do Paulo Freire.
"Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no mundo que nós nos fazemos."

um novo amigo disse...

ok, vc nao me conhece. Na verdade, acho que vc nao conhece nem a pessoa que me mandou seu blog... Mas nao importa - ou talvez importe. Isso ter chegado tao longe pode ser um sinal de que posso seguir acreditando na humanidade (mesmo na gente que nao faz algo assim, mas que passa isso pra frente - sei lá, acho que eh uma forma de admiracao).
Bom, mas resolvi deixar um comentario aqui por 2 motivos: 1) tomei mta cerveja hj e to um pouco mais expressivo que o normal; 2) vou fazer algo similar em outubro. Com 2 pqnas diferencas - mentira. 2 diferencas fundamentais: vou voltar pro Brasil pra isso (sou brasilerio mas moro fora) - o que faz MTA diferenca, a comecar pq jà sei um pouco o que esperar; e tenho uma data pra acabar... na verdade lendo seu blog me deu uma vontade de ir pra nao voltar mais... Talvez nao seja só coincidencia vc ter chegado aí no dia do meu aniversário...