sábado, 19 de março de 2011

A Labuta

Finalmente, após dois meses, explicarei a todos o que EXATAMENTE estou aprontando por aqui.
A princípio, a idéia era vir pela AIESEC e me desligar o mais rápido possível (desculpa amigos AIESECERS), buscando não um voluntariado temporário apenas como experiência, mas sim uma estadia e um vínculo permanente com a ONG. Onde eu possa desenvolver meus próprios projetos sociais a fim de seguir carreira social e trabalhar com ONGs pro resto da minha vida.
Enfim, pisei em terras ugandesas e fui direcionada à Mukono, um distrito à 30 minutos de Kampala, para a ONG onde deveria voluntariar. Na verdade, não era uma ONG, se quer era registrada como tal. Não havia um escritório e nenhum espaço físico para os projetos. Aliás, desconfio muito dos projetos e das intensões.
Não exitei, parti.
Assim, busquei, através da AIESEC, minha segunda ONG, situada em Mytiana. Sem nenhuma visão, nenhum projeto, nenhuma estrutura física e financeira e NENHUMA organização e planejamento. Chegava no escritório às 8 da manhã e ficava parada até uma da tarde, quando começava a pressionar para fazermos alguma coisa, já que somos uma maldita ONG e temos comprometimentos. Fiquei duas semanas afim de contribuir e ajudá-los a se tornarem uma 'ONG de verdade'. Opinei, pressionei, fiz de tudo.
Parti novamente.
Da mesma forma foram as minhas duas outras ONGs que busquei através da AIESEC até perceber que Uganda possui mais de 800 organizações e que, em sua grande maioria, são falsas, ou seja, um meio fácil de conseguir din din.
ONGs são uma faca de dois gumes. É uma vávula de escape para um governo totalmente precário, que joga suas responsabilidades para demais, sem se quer questionar se está sendo feito um bom trabalho. Tudo através do nosso próprio dinheiro. Entretanto, diante de um governo totalmente precário, as ONGs ajudam MUITO. Sabe aquela coisa de medidas paliativas? Então.
Mas em certo ponto, me pergunto, se não fossem pelas medidas paliativas, o que fariam as pessoas agora, dessa geração? Sei, no futuro, sem medidas paliativas, será melhor para a sociedade, mas a questão é urgentista. Quem vive aqui não está preocupado com o futuro, pois acredita que se quer terá um.
Enfim, to desviando da questão, né?
Certo dia, após perceber que a AIESEC-Uganda é uma grande farsa, que os estudantes que nela trabalham ganham bastante para tal e que é um ambiente repleto de mentira, enganação, armação... Resolvi anteceipar meu desligamento :)
Batalhei muito, busquei muito, fui MUITO determinanda a achar uma ONG de verdade, uma grande ONG, com planjamento, organização, estrutura, visão, projetos, apoio... Achei.
Achei e estou bastante orgulhosa de mim, pois um dos meus grande defeitos e um dos que mais odeio é o conforto. Sou muito confortável. Lotada de sonhos e planos que são constantemente adiados, repletos de desculpas esfarrapadas.
Ao mesmo tempo, por conta própria, sem qualquer ONG ou qualquer ajuda de amigos, desenvolvi projetos a serem aplicados na minha própria comunidade. Moro na pior favela de Uganda, não é possível que eu não possa arregaçar as mangas e fazer algo. E vi quão possível isso é. Pra poder ajudar e desenvolver QUALQUER projeto social, não precisamos de nada mais que nossa boa vontade, determinação, desenvoltura e criatividade. Fui até a escola local. Podem chamá-la de uma espécie de escola rural. Acompanhei e entrevistei todo mundo até identificar TODOS os problemas. Após, desenvolvi estratégias para resolvê-los e agora estou batalhando para buscar parcerias, inclusive governamentais, para resolver todos os problemas da escola. Que são muitos. Desde a necessidade de um acompanhamento familiar para identificar problemas pessoais e resolve-los, histórico escolar (acreditem, eles não possuem), programação e didática, atividades esportivas e educativas, alimentação (passam o dia inteiro na escola sem nada no estômago. NADA)... Enfim, muitas coisas.
Outro projeto que estou desenvolvendo na minha comunidade, mas ainda não o coloquei em prática, pois para tal precisarei de muita ajuda, é a questão do lixo, da água e do saneamento. Temos lixos espalhados por todo o lado, esgotos, não temos água encanada, não temos ávores. Toda a favela cheira a fezes.
Bom, como já havia dito, encontrei uma ONG grande, com din din, com vários projetos maravilhosos, super organizada... Enfim, trabalharei em alguns dos seus projetos e o mais importante: eles apoiarão todos os meus outros projetos. Possuem milhares de contatos e já marcamos uma reunião com o ministro da água e saneamento para discutirmos medidas para minha comunidade. Ao fim da próxima semana plantaremos cerca de 500 árvores na favela, árvores que podem ser usadas como remédios para a malária, quando você não tem condições de ir a um hospital e que também repelem alguns mosquitos. Abriremos uma conta bancária para a escola e eu coordenarei esses projetos.
Além do mais, como pretendo ficar por anos, eles entenderam que meu papel não é de voluntária e, em breve, após checarem meu trabalho, me efetivarão. Até lá, me será proporcionado acomodação (muito boa, por sinal) e alimentação.
Por fim, como último projeto e não menos excitante: vocês estão 'olhando' para a mais nova assistant executive director em Uganda da Africa Youth Foundation for Peace and Democracy. Trata-se de outra ONG com escritórios no mundo todo e que, como o nome já diz, são voltados para o desenvolvimento da democracia e paz no continente africano. Estou me achando como a mais nova ativista da paz de Uganda. Não é exatamente o que vim fazer aqui, já que, como uma péssima internacionalista, acredito que alcaçaremos a paz através do povo e não dos Estados e, para tal, precisamos de pessoas saudáveis, educadas, bem alimentadas... Talvez seja por isso que os governos africanos não façam tanta questão de prover isso.
Em maio, eles me enviarão por um mês para a Libéria, para um curso de resoluções de conflitos, paz e democracia, como treinamento. Pagarão tudo, desde acomodação, passagem, comida e até festinhas.

Enfim, as coisas se encaixaram como eu nunca um dia sonhei. E olha que eu sonho bastante e beeeem alto.

8 comentários:

Guilherme Cicerone disse...

Me segurei aqui agora, Bá. Me segurei.
Conquistando a sua independência e se afiliando a uma instituição que realmente queira fazer algo pela África é o que acredito ser o sonho dos sonhadores que estão no seu lugar. Eu que estou aqui sinto isso também... Mas, assim, agora é para valer!
Eu acredito no que você pode fazer e, mais uma vez, fará da melhor maneira que puder. Mas eu nem preciso te dizer isso. Você sabe.

A África tem sorte de ter você.

Unknown disse...

Barbara.
Com sinceridade digo à você que fico constrangida em não ter a coragem que você tem demonstrado em ajudar o seu próximo.
Nesse momento só posso dizer que o mundo precisa e muito de pessoas como você, sem demagogia.
Que o Papai do céu te ilumine, te dê muita força e saúde.
De coração...
Gláucia

sibeli disse...

Que espanto,surpresa esse essa sua sabedoria em tão tenra idade.Que Deus te ilumine em prol dessa favela,dessa escola,e que bom que soube separar o joio do trigo te amo

sirleide disse...

Oi Bá,li seu blog,e achei maravihloso,vc esta super preparada realmente pra missão,fora o português,perfeito,rs.Nem preciso dizer que me orgulho de vc,ne,rs.Bá vc tem tudo pra chegar la,siga em frente,I believe in you!!!.Siga em frente,lembre se que vc esta fazendo a diferença pra essas pessoinhas disprovidas de tudo.Bjs.

Anônimo disse...

ahahaha quando eu posso ir pra i???
vc aceita uma voluntaria em seu projeto...
nu que saudade que vontade fala com vc garotaa...
vc nao imagina como eh fundamental pra mim ter alguem da minha familia nessa area da qual eu a cada dia que passa quero aprender maiss e maiss
sucesso aee primaaa
bejoooo

Unknown disse...

ahahaha quando eu posso ir pra i???
vc aceita uma voluntaria em seu projeto...
nu que saudade que vontade fala com vc garotaa...
vc nao imagina como eh fundamental pra mim ter alguem da minha familia nessa area da qual eu a cada dia que passa quero aprender maiss e maiss
sucesso aee primaaa
iza

Artur Bruzos disse...

muito legal. continue escrevendo, to acompanhando (apesar de não concordar em alguns pontos rs)

Anônimo disse...

Lindo saber que o mundo não é feito só de pessoas capitalistas, pessoas sem ideais e que buscam por valores superficiais como eu e muitos outros que nunca teriam coragem de fazer o que você está fazendo.

É de pessoas como voce que o mundo precisa, para nos tocar, para nos inspirar, para fazer com que mudemos.